Ilustração para capa de livro.
Editorial Caminho.
2005
SOL PRETO, NO PRESSÁGIO
(A um original estrábico)
Enrolou-se a velha de capulanas
e estudou o brilho da profusão celeste.
(Os astros passeavam no rio
ou o rio passeava nos astros?)
No pântano, a velha sábia puxou, se rindo,
e da suja água, da palavra vinda dos bantus,
o crocodilo albino, na invenção mais impura,
sublinhou o estrabismo e chamou-me claro.
E eu, tocando o sorriso, a inspiração paciente,
disse-lhe que talvez; porque na brisa
os espíritos confirmaram: claro o sol,
o rio também, igualmente a sabedoria.
Baixa e magnífica, a palavra
caiu-me no poema. E disse à velha:
“eu pinto o sol sempre de preto”.
Pág. 53