Lampedusa | Ana Paula Tavares

Ilustração para crónica. 2015

 

“Aprendeste a Domesticar Desertos para Agora te Perderes no Mar”
Fala de mãe ‘Me’, a mãe das mães, para os filhos novos.

Deixas as mulheres e os filhos, as mães de ontem e de hoje, os amigos e os camelos, só para te perderes no mar. Olha, irmão, o mar não é vermelho nem abre estrada para se poder passar, não tem lagos de sal para atravessar, nem o paraíso reencontrado das palmeiras ou o ouro escondido que sabias procurar. As provas do mar são muitas, meu irmão, e se escutares aprenderás a ouvir as vozes de todos os que se perderam sem chão para repousar e choram para sempre o canto dos possuídos por seres que não conheciam e os proíbem de rir e encontrar o caminho de volta. Olha, irmão, são grandes os caminhos do mar e à sua volta as árvores não têm as lianas da salvação: o mar é cova, mortalha, sedução, lugar de todas as forças e da construção da muralha. Ali, dizem, se cria o mare nostrum que devia ser de todos e é só de alguns, e de natureza hostil e faminta dos corpos dos irmãos e da sua vida. www.redeangola.info