L. Ralha | ACD edições

Design e paginação de livro sobre a obra do pintor Luís Ralha. 2004

"Tirei o curso de Pintura na Escola de Belas-Artes e depois fui dar aulas para a António Arroio. Foi no curso de Artes Decorativas que se deu o meu primeiro contacto com o design. Por lá andavam Daciano Costa, Rogério Ribeiro e Victor Manaças, entre outros. Penso que a António Arroio foi um dos primeiros lugares em Portugal onde se falou de design. (...) Éramos pintores ou escultores, e por essa razão sentíamos a falta de qualidade dos produtos que nos rodeavam nesse tempo, quando comparados com o que nos chegava de Inglaterra, onde o design estava muito desenvolvido. Sentíamos que as noções estéticas deviam ser alargadas aos objectos do quotidiano. Estas questões, e ou-tras que esse grupo ia debatendo, eram problemáticas relativas ao design com o sentido de pensar a sua pertinência em Portugal. Dentro das nossas possibilidades, íamos introduzindo na escola essas noções de qualidade estética, associadas a uma funcionalidade que podia servir para todos. Propúnhamo-nos democratizar o acesso à arte através do consumo de produtos do quotidiano com qualidade. (...) Através de um programa de design industrial podíamos chegar à casa de um maior número de pessoas. Esta era uma das saídas contra o academismo que se ministrava na Escola de Belas-Artes. Preconizávamos um salto teórico e ideológico que teve sempre uma recepção difícil, na medida em que politicamente não era aceite, de forma que nos víamos perseguidos. De facto, deste grupo, só Daciano Costa acabou por desenvolver um trabalho sistemático na área do design. De qualquer maneira, o debate do design era sempre menosprezado pelo Estado, dado que constituía uma racionalização que se opunha ao conceito de artes decorativas. O design ultrapassava em grande medida um discurso académico, que lhe opunha os conceitos de ‘maior’ ou ‘menor’ nas artes".
do livro, parte da entrevista de Luís Ralha a Francisco Vaz Fernandes in ‘Sem Margens’, ed. REFER EP.

Luís Ralha era meu pai. O material do livro foi utilizado nuns painéis, que desenhei, para uma homenagem que lhe foi feita, um ano após a sua morte, na Bienal da Festa do 'Avante!' 2009.