Leituras que quis desenhar. Só por isso mesmo, porque quis desenhá-las. Ilustração não publicada. 2009
“o que o Trindade achou melhor, então, foi ir andando……. Entendeu que era tempo de apanhar novo rumo para o seu próprio destino de vivente em devir sem regra……. Arrebanhou então as suas imbambas, que para além de traje pessoal que se tinha inventado já fazia tempo não eram aliás senão o livro e a bicicleta que o engenheiro americano lhe tinha deixado quando acabou a sua missão e voltou à terra dele, e foi refugiar-se na Praia Amélia, onde anos antes tudo se lhe tinha oferecido em branco……. Mas desta vez juntou vinte e oito costelas baleia para armar um abrigo e meter-se lá dentro até se lhe revelar perfeitamente claro e definitivamente inscrito tanto na cabeça como no coração e como na alma, ao fim de três dias, que a sua vida, porque isso há de também ser o que obrigatoriamente acontece com a vida seja de quem ou do que for em qualquer lugar ou tempo, não iria jamais poder deixar de ser, por mais à margem das razões e das implicações primeiras e evidentes que a sua própria condição de filho do nada tendesse sempre a colocá-lo, se não um caminho aberto por entre os embates das refregas dos outros……. Tudo em abstrato mas muito objectivado também……. Muito entre partes e povos, nesse tempo e nesse espaço em que lhe tinha calhado nascer e viver……. Razões colectivas, raças……. Mas dramas pessoais também a confundir tudo, no interior de cada uma das suas partes…….”
A Terceira Metade foi lido numa edição da Cotovia de 2009.