À tua frente estão as tintas, os lápis de cor, os pastéis (ou serão lápis de cera?), os pincéis e os godés. Estão ainda uma taça com água e alguns guardanapos de papel. A área de pintura já foi marcada a lápis.
Sabes, melhor que ninguém, que é indispensável que a proporção do desenho corresponda à mancha que lhe está destinada na paginação, que se calhar, foi feita por ti. Quase de certeza vais ilustrar um texto de um autor africano. Estás, portanto, em casa.
Numa casa grande como um país e um continente que nunca esqueceste. Foi de lá que trouxeste duas princesas e gravadas milhões de cores e texturas e pessoas e paisagens que depois, pacientemente, voltas a juntar de forma extraordinária e surpreendente.
Privilegiado é o leitor porque vais-lhe mostrar novos limites que ele nunca viu nem sequer suspeitou. E é assim desde, que em meados de oitenta, começaste, muito timidamente a ilustrar para capas de livros primeiro e para crianças depois. Hoje, são talvez centenas de magníficas imagens publicadas, para todos os públicos, logo partilhadas que tu não és de guardar para ti o que é para dividir.
Sabes quantas pessoas me dizem que as tuas ilustrações são cada vez mais belas e doces?
Texto para o catálogo da exposição "Ivone Ralha. As vozes das Palavras". Bruxelas. 2002