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Ivone Ralha nasceu em Lisboa no ano de 1958. Em Cascais, frequentou o ensino secundário (área de arquitectura), estagiando um ano no atelier de Daciano da Costa antes de partir para Moçambique, onde viveu entre 1977 e 1984. Bacharelou-se em História na Universidade Eduardo Mondlane, trabalhou no Arquivo Histórico de Moçambique e foi professora de História e Desenho Técnico no Centro de Estudos Culturais em Maputo. De regresso a Portugal, iniciou a sua carreira na área do Design Gráfico na Editorial Caminho (1984-1988). Passou pela Câmara de Vila Franca de Xira (1988-1989) antes de, a convite de Henrique Cayatte, integrar a equipa fundadora do jornal Público (1989-2005). Com Henrique Cayatte trabalharia depois no Diário de Notícias (2006-2007: direcção António José Teixeira) e também na revista Cubo (2007-2009: direcção Cristina Cordeiro). Integrou também a equipa do jornal i (até 2013) antes de assumir a direcção gráfica do site Rede Angola (2013-2017). Desenha e pagina livros, jornais, revistas, faz infografias, ilustra e pinta (participou em várias exposições colectivas e individuais em Portugal, Helsínquia e Bruxelas).

Ivone Ralha was born in Lisbon, in 1958. After secondary school in Cascais, where she developed an interest in Architecture, she had a year’s internship at Daciano da Costa’s studio before leaving for Mozambique, where she lived between 1977 and 1984. She graduated in History from Eduardo Mondlane University, worked in the Mozambique Historical Archive, and taught History and Technical Design at the Centro de Estudos Culturais in Maputo. After returning to Portugal, she began her career in Graphic Design at Editorial Caminho (1984-1988). She worked for the Vila Franca de Xira Council (1988-1989) before, at the invitation of Henrique Cayatte, joining the founding team of the newspaper, Público (1989-2005). Again with Henrique Cayatte, she would later work at the Diário de Notícias (2006-2007: directed by António José Teixeira), as well as at the magazine, Cubo (2007-2009: directed by Cristina Cordeiro). She was later part of the i newspaper team (until 2013), before becoming graphic director of the Rede Angola website (2013-2017). Ivone designs and paginates books, newspapers and magazines. She also does infographics, illustrates and paints (having participated in several collective and individual exhibitions in Portugal, Helsinki and Brussels).

Luís Carlos Patraquim GLOSA & POESIA

Uma respiração de cores quentes, afago de linha e sombra, uma “interpretação” imagética apondo uma poeira de ouro no núcleo mais incandescente de sentido, sentidos. Percebendo-se como transporta dentro de si o fogo perene dessa temporada. Dançando coloridamente com as palavras dos outros. Propondo-nos uma visão singular. Atenta. Sensível. Discretíssima. Um anelo de cumplicidade. O terno exercício da amizade. Todos os adjectivos são deliberados. Trazem "objectivo". "A letter is a joy of Earth", afirmava a Emily. Estes desenhos também.

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Henrique Cayatte DOCES ILUSTRAÇÕES

Privilegiado é o leitor porque vais-lhe mostrar novos limites que ele nunca viu nem sequer suspeitou. E é assim desde, que em meados de oitenta, começaste, muito timidamente a ilustrar para capas de livros primeiro e para crianças depois. Hoje, são talvez centenas de magníficas imagens publicadas, para todos os públicos, logo partilhadas que tu não és de guardar para ti o que é para dividir. Sabes quantas pessoas me dizem que as tuas ilustrações são cada vez mais belas e doces?

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José Eduardo Agualusa O MUNDO DE IVONE

O nome é um equívoco: nunca vi Ivone Ralha colérica, pelo contrário, a doçura dela apazigua tudo ao seu redor. Olhem para as afáveis criaturas que lhe saem das mãos – um universo inesgotável de gatos gloriosos, lagartas vestidas de alegres capulanas, peixes que devoram luz. No suplemento de domingo do diário português Público, num espaço ocupado por cinco escritores lusófonos, Vozes em Português, iniciativa feliz de José Mário Costa, os desenhos de Ivone Ralha completam os textos, dão-lhes vida, sempre de forma discreta e inteligente. Mia Couto, de Moçambique; Luís Fernando Veríssimo, do Brasil; Ana Paula Tavares, de Angola; Germano Almeida, de Cabo Verde; Carlos Lopes, da Guiné-Bissau.

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Ana Paula Tavares A COR DAS VOZES

A senhora das mãos de seda colocou no cesto da tradição, por ordem, as tintas antigas. Amassou com dedos finos, tacula e lápis-lazuli, moídos sem pressa com gestos longos nos dormentes esquecidos das antigas casas da aldeia. O pó dos alfabetos (latim, éfik, desenhos geométricos em carapaças de tartaruga) foi misturado em cuidadas operações com óleos vegetais, minerais e perfumes.
A senhora das mãos de seda amarrou o sopro das vozes dentro do cesto de adivinhação e inventou o mundo a partir das relações entre os diferentes sons. Aprendeu a olhar uma por uma e a cobrir de panos as palavras nuas das histórias.

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Ana Paula Tavares HISTÓRIAS E VERSOS

São os versos que celebram a vida com a sua fome à solta e as lentíssimas mulheres de filhos às costas e enxadas na mão, hinos inteiros para cantar de manhã e começa o dia. A esses a senhora empresta o coração e os anjos e a sabedoria do risco para em harmonia desenhar a luz que nos falta como o ar que se respira e respira esta vida que se esquece vivendo. Como nomear-lhe a técnica? Com que rigor lhe atribuir um método? Sons de ver, vozes iluminadas, concisão de recursos ciência correcta de desenhar as falas. Cravo, pois a última palavra.

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